Tanatologia Forense - Fenômenos Cadavéricos

Tanatologia Forense - Fenômenos Cadavéricos


O que cai em prova?

- Fenômenos Abióticos Mediatos x Imediatos

- Tempo de ocorrência dos fenômenos, principalmente livor e rigor mortis

- Fases da Putrefação

- Reconhecimentos dos fenômenos transformativos destrutivos e conservadores


Tanatologia

    A tanatologia pode ser conceituada como a ciência que estuda o morto e seus fenômenos. É um assunto amplo e sempre presente na maioria das provas de concurso para o cargo de Odontolegista. A tanatologia, abarca diversos assuntos, nessa postagem focaremos no estudo dos fenômenos cadavéricos.





Fenômenos Cadavéricos 

    Os fenômenos cadavéricos, ou abióticos, indicam certeza de morte, e podem ser divididos em imediatos ou mediatos. Esses fenômenos são muito importantes na tanatognose (determinação da natureza e das causas da morte) e na cronotanatognose (tempo decorrido entre a morte e o exame necroscópico). 

    Os fenômenos imediatos são os que ocorrem logo após, ou minutos após a morte. Os mais citados na literatura são: Perda da consciência, imobilidade, cessação da respiração e circulação, cessação da atividade cerebral, face hipocrática, perda da sensibilidade e midríase.

    Os fenômenos mediatos, também chamados de tardios, ocorrem um certo tempo após a morte e dão a certeza do diagnóstico da cessação de vida. São exemplos: Esfriamento cadavérico, rigidez cadavérica, manchas de hipóstase, espasmos cadavéricos, desidratação e palidez (esse último pode ser considerado como imediato por alguns autores, inclusive já foi questão de prova).


Esfriamento do Cadáver (Algor Mortis)

    Ocorre logo após a morte. O corpo irá esfriando gradativamente até que se iguale à temperatura ambiente (normalmente entre 12 e 24 horas). O resfriamento pode ser considerado como uma das formas de cronotanatognose, embora não seja tão precisa, pois sofre diversas influências, como o peso do cadáver, idade, posição, vestes e a causa de morte.

    Alguns autores consideram que há diminuição 1,5°C por hora até igualar ao ambiente. Para outros, ocorre a diminuição de 0,5° nas 3 primeiras horas, seguido por 1° até a temperatura ambiente. (analisando as questões de provas, as bancas costumam ter o primeiro entendimento).


Livores ou Manchas de Hipóstase (Livor Mortis)

    São as manchas que ocorrem devido a estase sanguínea nos vasos. Essas marcas costumam aparecer em locais de declive, exceto nas áreas que estão pressionadas contra o solo. Os livores começam a aparecer em torno de 1 hora após a morte, tornando-se fixos após mais de 8 ou 12 horas. É um importante meio de estimar o tempo de morte, embora sofram interferências.

As manchas de hipóstase normalmente possuem a coloração violácea, mas podem sofrer alterações de acordo com a forma da morte:

- Monóxido de Carbono - Rosa ou carmim 

- Afogamento - Rosa claro

- Anemia aguda - Pouco visível


Disponível em: Livor Mortis: Definition, Causes, and Timeline (scienceabc.com)


Rigidez Cadavérica (Rigor Mortis)

         O rigor mortis é um processo físico-químico que acomete todo o corpo. De acordo com Nysten (classificação mais cobrada em provas), a rigidez começa na cabeça (1 a 2 horas após a morte) e vai seguindo o trajeto descendente, finalizando nos membros inferiores. Quando completa (6 a 8 horas), desaparecerá seguindo a mesma ordem. Normalmente se desfaz com os fenômenos da putrefação.


Desidratação Cadavérica

     A desidratação cadavérica é a perda de água gradativa que ocorre no corpo. Esse processo é responsável por várias alterações que o cadáver sofre, como por exemplo: Decréscimo de peso, modificação oculares (sendo o principal a mancha enegrecida na esclerótica, também chamada de mancha de Sommer e Larcher) e pergaminhamento da pele.


Cristais de Sangue Putrefato

    Também chamados de Cristais de Westenhõffer-Rocha-Valverde, aparecer por volta do terceiro dia após a morte e são resultado da decomposição dos elementos sanguíneos, principalmente das hemácias. Esses cristais são visualizados até 35° dia, sendo importantes na estimativa do tempo de morte.

    Outras formas de estimar a tempo de morte são: Crescimento de pelos da barba (21 micrometro por hora) e o aumento da concentração de potássio no humor vítreo, presença de alimentos no estômago e substâncias químicas da putrefação. (Serão abordados em tópicos futuros).




Fenômenos Transformativos 

    Também são sinais de confirmação de morte, ainda mais que os anteriores. Os fenômenos transformativos podem ser destrutivos ou conservadores. Certamente vocês podem esperar uma questão sobre esse tema na prova, é bastante recorrente.

Os fenômenos destrutivos são: Autólise, Putrefação e Maceração.

Autólise

    É o primeiro estágio destrutivo, esse fenômeno é caracterizado pela apoptose das células, que ocorre devido as enzimas proteolíticas dos lisossomos. É importante lembrar que a autólise ocorre sem a interferência bacteriana, as bancas gostam de cobrar esse detalhe. Esse fenômeno pode ser divido em duas fases: Latente (ocorre no citoplasma das células) e Necrótica (ocorre no núcleo).

Putrefação

   Fenômeno destrutivo mais cobrado nas provas, é importante ter atenção nesse tópico! A putrefação ocorre devido a presença bacteriana (normalmente são as próprias bactérias do corpo que iniciam o processo). A putrefação ocorre em quatro fases, que didaticamente são divididas em: Cromática, Gasosas, Coliquativa e Esqueletização.

- Fase Cromática: Também chamada coloração, tem início entre 18 e 24 horas após a morte e é marcada pelo aparecimento de uma mancha de cor esverdeada na fossa ilíaca direita. Com o tempo, essa mancha se estende para todo o corpo. Essa coloração ocorre devido a sulfohemoglobina.

- Fase Gasosa: É a segunda fase da putrefação, ocorre entre 24 horas e 7 dias. Nesse estágio, o cadáver aumenta bastante de tamanho, devido aos gases da putrefação. Com o aumento de volume, os vasos sanguíneos são "empurrados" para as periferias, ocorrendo o que se chama de circulação póstuma de Brouardel. Além disso, há o aparecimento de bolhas na epiderme morta.

- Fase Coliquativa: É o período que ocorre a dissolução dos tecidos, podendo demorar meses para que se complete. Normalmente tem início com uma semana após a morte. Como há o escape dos gases da fase passada, esse estágio é marcado por intenso odor.

- Fase de Esqueletização: Nesse estágio há a exposição dos ossos, podendo durar por diversos anos.


Maceração

    A maceração é um tipo de transformação destrutiva que afeta os submersos. Pode ser séptica (como ocorre nos afogados em rios, por exemplo) ou asséptica (como ocorre nos fetos). Na maceração há o destacamento da epiderme, dando um aspecto avermelhado ao cadáver.


Fenômenos Conservadores

Mumificação: Para que ocorra são necessárias certas condições que inibam a atividade bacteriana como ambientes extremamente secos, bem ventilados e quentes, ocorrendo, dessa forma, uma desidratação rápida. A mumificação também pode ser artificial, geralmente a pedido de familiares, nessa forma, substâncias são inseridas no cadáver para que o processo de putrefação seja paralisado.

Saponificação: Esse fenômeno ocorre em situações de bastante umidade, com pouca ventilação e de preferência em solos argilosos. Aqui, o corpo adquire uma aspecto amolecido, untuoso e quebradiço, dando uma aparência de cera ou sabão. Ocorre devido a reação dos ácidos graxos com a argila do solo, formando ésteres.

Corificaçao: Bastante raro, ocorre em cadáveres confinados em câmaras ou urnas metálicas (zinco, principalmente) fechadas hermeticamente. O cadáver apresenta a pele em aspecto de couro curtido.

Congelamento: Também é uma forma conservadora do cadáver, de acordo com França. Ocorre em temperaturas abaixo de -40°, conservando o corpo por tempo indefinido.

Calcificação: Fenômeno conservador raro caracterizado pela petrificação do corpo. 




Referências:

DARUGE, Eduardo. Tratado de odontologia legal e deontologia. Grupo Gen-Livraria Santos Editora, 2017.

VANRELL, Jorge Paulete. Odontologia Legal E Antropologia Forense . Grupo Gen-Guanabara Koogan, 2019.

 

 


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