Traumatologia Forense - Energias Físicas
Traumatologia Forense - Lesões Térmicas
A traumatologia é um dos assuntos mais importantes nas provas, juntamente com os temas de identificação e tanatologia. Nesse texto, abordaremos as lesões térmicas, que se inserem no tema de Energias Físicas.
O que cai em prova?
- Conhecer as classificações das queimaduras e geladuras (Principalmente queimadura)
- Aspectos periciais em queimados (Sinal de Montalti, Posição de Boxeador)
- Intermação x Insolação
Traumatologia Forense
As energias de natureza física são variadas, dentro desse grupo, estudaremos as lesões causadas pelo calor, frio, eletricidade, pressão atmosférica, radioatividade, luz e som.
Temperatura - Lesões Térmicas
A ação térmica pode provocar lesões por meio do calor direto (Queimadura e Geladuras) ou por meio do calor difuso (Termonoses e Hiportemia). Essas lesões térmicas são variáveis em graus de acometimento, podendo ser simples, ou mesmo levar ao óbito.
1) Queimaduras
As queimaduras são provocadas pelo calor direto da chama ou de outro meio que esteja quente. A classificação mais utilizada em provas é a de Hoffmann, que divide as lesões em quatro graus:
1° Grau - Também chamado de Eritema e Sinal de Christinson (É importante decorar essas outras nomenclaturas). Essa lesão ocorre entre 45-50° e provoca vermelhidão no local afetado. É importante mencionar que essa vermelhidão ocorre pela dilatação dos vasos superficiais. Como é uma reação vital, não ocorre no cadáver.
2° Grau - Chamado de Flictena e Sinal de Chambert. Ocorre em temperaturas por volta de 55° e provocam a formação de bolhas na pele acometida. Essas lesões bolhosas contêm líquido rico em albuminas e cloretos. Quando há o rompimentos dessas vesículas, a derme fica exposta e o aspecto avermelhado pode ser observado. Quando o corpo permanece no calor, o teto da bolha se carboniza, dando um aspecto enegrecido à lesão, essa característica é chamada de "Pele de leopardo". Também é importante mencionar que a formação de bolhas e vesículas nas queimaduras são reações vitais, não ocorrendo em cadáveres.
Obs: Bolhas e vesículas podem aparecer em cadáveres, mas por mecanismos diferentes. Enquanto as lesões por queimadura apresentam liquido proteico, as bolhas nos cadáveres são resultado do processo de putrefação.
3° Grau - Também conhecida como Escarificação, pela formação de lesões chamadas de escaras. Ocorre o acometimento até o plano muscular e a cicatrização (caso o indivíduo saia com vida) é prejudicada, dando origem a cicatrizes retráteis e queloides. Envolvem temperaturas a partir de 70°.
4° Grau - Também chamada de Carbonização, é o acometimento mais grave pela ação direta do fogo. Há destruição tecidual até o nível ósseo, podendo ser generalizada ou localizada. Quando a carbonização é generalizada, é comum observar considerável redução de volume do corpo (até 70%), além disso, os corpos assumem a postura de boxeador (ou sinal de Devergie), o qual é caracterizado pela retração dos membros superiores e inferiores. Essa condição ocorre pelo predomínio de massa nos músculos flexores em relação aos extensores (já foi questão de prova!).
Classificação das queimaduras até o 3° Grau
Disponível em: Queimaduras: graus, imagens e tratamento - MD.Saúde (mdsaude.com) |
Nos casos de carbonização, é importante saber se a vítima morreu em decorrência do fogo ou se já estava morta antes das queimaduras. Para isso, existem alguns métodos como a pesquisa por monóxido de carbono no sangue e pela presença de fuligem nas vias respiratórias (sinal de Montalti). Quando positivos, indicam que a vítima estava viva e inalou a fumaça provocada pelo fogo.
Outros sinais de carbonização são: Fraturas ósseas, boca entreaberta e hemorragia epidural.
A classificação das queimadura por extensão é utilizada na prática médica e tem pouca utilidade legal. O método de classificação mais usado é a regra dos nove de Wallace. Nessa classificação a superfície corpórea é dividida em partes, cada uma representando uma porcentagem, sempre 9 ou múltiplos de 9, como podemos observar abaixo:
Disponível em: regra-dos-nove-de-wallace – Multisaúde (multisaude.com.br) |
2) Termonoses
As termonoses são resultado do calor prolongado e difuso, sendo divididas em Insolação e Intermação. A maior parte das lesões provocadas por essas condições é proveniente de alterações hidroeletrolíticas, que alteram a homeostase corpórea e a capacidade do corpo de manter a temperatura. Na insolação ainda há o agravamento dos raios ultravioletas. O corpo começa a perder sua capacidade de manter a temperatura quando esta passa dos 30°, principalmente quando é acompanhada de umidade relativa do ar superior a 60 ou 70%.
Intermação - A fonte de calor é artificial, geralmente ocorre em lugares fechados e com pouca ventilação, mas também pode ocorrer em espaços abertos. O calor geralmente é proveniente de fornalhas ou caldeiras.
Insolação - A fonte de calor é o Sol (fonte natural). Pode ocorrer em espaços abertos ou fechados e costuma ser mais severo que a intermação.
A sintomatologia das termonoses começa a aparecer quando a temperatura do corpo atinge por volta de 44°, é comum que os indivíduos apresentem taquicardia, aumento da pressão sanguínea, hiperemia, secura de pele e mucosas, alterações oculares e auditivas, taquipneia e convulsões.
Alguns fatores podem deixar as lesões provocadas pelas termonoses ainda mais graves, são esses: Alcoolismo, idade baixa ou avançada, gravidez, fadiga, obesidade e doenças sistêmicas.
De acordo com Vanrell, as termonoses podem assumir algumas formas clínicas, como:
Fulminante - Quando ocorre queda brusca da pressão
Sincopal - Precedida de distúrbios neurovegetativos (cefaleia, náuseas e vômitos)
Hiperpirética - Aumento da temperatura corporal para além dos 45°
Asfíctica - Quando ocorre cianose, dispneia e esfriamento das extremidades
Congestiva - Eritema cutâneo, congestão polivisceral e edema pulmonar
Urêmica - Sudorese, Insuficiência renal, parestesias, distúrbios sensoriais, convulsão e morte
As insolações podem provocar aumento da temperatura intracraniana, provocando efeitos leves ou bastante graves:
Leve - Ocorre mal-estar geral, obnubilação (perturbação da consciência), febre, distúrbios sensoriais, cefaleia e vertigens.
Grave - Sintomatologia neurológica, convulsões, alterações da coordenação motora e da linguagem, febre e poliúria.
Fulminante - Perda da consciência, coma e morte.
3) Geladuras
As lesões locais por frio são semelhantes às queimaduras. Aqui, são provocadas pela exposição prolongada à baixas temperaturas ou por algum meio extremamente gelado. Essas lesões são decorrentes da constrição vascular, causando isquemia e posteriormente hipóxia. Casos mais graves podem gerar gangrena úmida ou seca. Elementos como cansaço, fadiga, alcoolismo, pouca e avançada idades e certos estados emocionais diminuem a resistência do corpo ao frio.
A classificação mais utilizada em provas de concursos é a de Callisen, que divide essas lesões em três graus, são elas:
1° Grau - Também chamada de Eritema, são lesões mais superficiais, geralmente localizadas nas extremidades dos dedos, na ponta do nariz e nas orelhas. Pele anserina e palidez também podem ser notadas.
2° Grau - Também denominada de Flictena ou Vesificação. No interior das bolhas é possível encontrar líquido serossanguinolento (proteínas e sangue). A ruptura do teto da bolha deixa exposta a derme, avermelhada pela congestão.
3° Grau - Chamada de Gangrena ou necrose, é a lesão mais agressiva, com acometimento dos tecidos mais profundos, como músculos e ossos. Geralmente formam crostas enegrecidas.
Alguns autores, como França, consideram um 4° grau para as geladuras. Nesse estágio, além da gangrena, há desarticulação do seguimento acometido.
Disponível em: Stages of frostbite - Mayo Clinic |
4) Hipotermia ou Resfriamento
Ocorre quando a temperatura corporal se mantém abaixo de 35° em situações de extremo frio, pois a partir de uma exposição prolongada a essas adversidades, o corpo tenta se adaptar (compensação) por alterações nos vasos sanguíneos. Após essa primeira fase, ocorre a descompensação, que inicialmente é reversível. A hipotermia pode ser classificada em leve (35° a 32°), moderada (32° a 28°) ou grave (temperaturas abaixo dos 28°).
Os cadáveres que sofreram óbito por hipotermia geralmente apresentam: Rigidez precoce e demorada; pele anserina (folículos aparentes); infiltrações hemorrágicas na mucosa gástrica (sinal de Wischenewski); livores de coloração mais clara; e fraturas ósseas.
Disponível em: Classification of accidental hypothermia | Download Table (researchgate.net) |
5) Ação do calor nos dentes
Os dentes também podem ser alterados de acordo com a temperatura, principalmente nas mais elevadas, de acordo com Vanrell, os elementos dentários apresentam as seguintes características:
150° - Ocorrem fissuras no esmalte
270° - As raízes tornam-se enegrecidas
400° - Ocorre queda espontânea da coroa ou pulverização do esmalte, caso o dente esteja sadio ou cariado, respectivamente.
800° - Ocorre a carbonização do esmalte e o mesmo assume uma coloração azulada. Nessas temperaturas, as raízes apresentam-se calcinadas e curvadas.
Em relação aos materiais dentários, sabe-se que o amalgama é o que apresenta maior sensibilidade ao calor, diferentemente dos materiais cerâmicos, que suportam temperaturas de até 1400°.
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